A Última Grande Lição: Aprendizados de Vida com Morrie Schwartz

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Trechos importantes

“O universo é demasiado harmônico, grandioso e avassalador para se acreditar que é tudo obra do acaso.” (Pág. 11)

“A cultura que temos não contribui para que as pessoas estejam satisfeitas com elas mesmas. Estamos ensinando coisas erradas.
E é preciso ser forte para dizer que, se a cultura não serve, não interessa ficar com ela. Que é melhor criar a sua própria.” (Pág. 39)

“- A vida é uma série de puxões para a frente e para trás. Queremos fazer uma coisa, mas somos forçados a fazer outra. Algumas coisas
nos machucam, apesar de sabermos que não deviam. Aceitamos certas coisas como inquestionáveis, mesmo sabendo que não devemos
aceitar nada como absoluto. Tensão de opostos, como o estiramento de uma tira de borracha. A maioria de nós vive mais ou menos
no meio.” (Pág. 42)

“Ás vezes, não acreditamos no que vemos e precisamos acreditar no que sentimos. E, se quisermos que os outros confiem em nós,
precisamos sentir que nós confiamos neles. Mesmo que estejamos no escuro. Mesmo quando estamos caindo.” (Pág. 58)

“-…À medida que se cresce, aprende-se mais. Se ficássemos parados nos vinte e dois anos, ficaríamos sempre ignorantes como
quando tínhamos vinte e dois anos. Envelhecer não é decair fisicamente. É crescer. É mais do que o fato negativo
de que se vai morrer, é também o fato positivo de que se compreende que sevai morrer e que se pode viver melhor por
causa disso.” (Pág. 101)

“Quem passa o tempo batalhando contra o envelhecimento sempre será infeliz, porque o envelhecimento
é inexorável. E, Mitch? – Ele abaixou a voz. – A verdade é que você vai morrer um dia.” (Pág. 102)

“Estar morrendo é apenas uma circunstância triste, Mitch. Viver infeliz é diferente.” (Pág. 39)

“… Precisamos descobrir o que existe de bom e verdadeiro e belo em cada fase da nossa vida.” (Pág. 103)

“E é pelo amor que vivemos, mesmo depois de mortos.” (Pág. 113)

Potterflexão

Estava relendo pela trozenta vez Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. Só que dessa vez tive uma visão bem mais crítica do que a que eu tinha quando lia só pra terminar logo a viciante série [que por sinal teve um fim que me fez pensar que o último livro estava com defeito quando no final tinha uma página branca logo em seguida]. Observei que existem algumas passagens do livro que me deixaram de queixo no chão. Por exemplo, no capítulo dez, que tem como Título “O Mapa do Maroto”, na página 160, há uma frase que Harry lembra, assim que os gêmeos Weasley o presenteiam com um mapa mágico do terreno do castelo de Hogwarts, que foi dita pelo pai destes meninos: “Nunca confie em nada que é capaz de pensar, se você não pode ver onde fica seu cérebro.” Já olhei pra essa frase muitas vezes, mas quando a li e não consegui uma interpretação convincente [pra mim]. Enfim, eu estou perturbada porque de algum modo ela mexeu comigo, não sei o por quê. Se alguem quiser me ajudar, dando sua opinião sobre a ditacuja, esta será extremamente bem recebida.

(Esse texto foi postado em meu blogger pessoal antes, mas respostas ao conteúdo da postagem me interessam até hoje)

 

Link do post original: https://karolinaaloks.blogspot.com/2009/08/reflita.html?m=1

Como eu era antes de você – Jojo Moyes

Como eu era antes de você

Autora: Jojo Moyes

Editora: Intrínseca

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A linda e impactante história terá como protagonistas Louisa Clarck e Will Traynor, mesmo vivendo em mundos diferentes, acabam se encontrando e passaram por momentos tenso, felizes e marcantes.

Louisa Clarck é uma jovem de 26 anos que trabalha como garçonete em uma pequena cafeteria. Mora com seus pais, sua irmã Treena e seu sobrinho Thom. É uma jovem de estilo diferente e marcante, não possuía muitas ambições e nem tão inteligente como sua irmã, apesar disso, gosta de seu emprego onde se distrai a observar as pessoas que passam para tomar café. Infelizmente a cafeteria é fechada e Louisa se ver sem emprego.

Sabendo que é a responsável por ajudar os pais a sustentar a casa, vai ate uma agencia de emprego para procurar uma vaga em que possa trabalhar, lá descobre que não possui muitas habilidades e qualificações, acaba aceitando alguns empregos sem sucesso. Então o que restou para Louisa foi um emprego como cuidadora de um tetraplégico. Louisa nunca tinha trabalhado com algo parecido, mas o salário era bom e poderia tentar ver no que dava.

Logo na entrevista na mansão dos Traynor, Louisa se ver numa própria saia justa (a saia em que vestia rasgou), mesmo assim Camila Traynor, mãe de Will, o tetraplégico resolveu dar o emprego a Louisa.

Ao iniciar seu trabalho, Louisa não sabia que seria tão difícil lidar com Will Traynor, um jovem advogado, que gostava de festas, aventuras e mulheres. Um certo dia Will estava na rua falando no celular quando foi atropelado e acabou ficando tetraplégico, apos o acidente sua vida mudou completamente. Era um rapaz infeliz, não saia de casa, mau humorado, mais muito bonito e inteligente.

Aos poucos L. Clarck foi conseguindo lidar com o dia a dia de Will e tentava fazer de tudo para que ele se sentisse bem, mas o jovem rapaz só a ignorava a cada dia, a mesma pensou várias vezes em desistir, mas impulsionada pela irmã continuou seu árduo trabalho durante 6 meses. Um dia L. Clarck ouviu uma conversa da mãe de Will e descobriu o verdadeiro motivo que ela estava a trabalhar naquela mansão. Louisa ficou sem chão, não sabia o que fazer, era uma grande responsabilidade tentar fazer Will aceitar que ele tinha motivos para viver. Will ensinou muitas coisas a Louisa, assim como ela também buscou muitas vezes lhe trazer a felicidade. E a cada dia seus sentimentos por ele aumentava e se viu apaixonada por ele.

Louisa já não gostava tanto mais do namorado que vivia de corridas e dietas, coisas que Louisa odiava, gostava de está com ele porque o considerava um grande amigo. E então Louisa teve um plano para ajudar Will a buscar a vida alegre novamente, criou planos, viagens na qual fariam juntos, levando também Nathan na qual acabara virando seu amigo de trabalho. Louisa confidenciou coisas de sua vida a Will que lhe ajudava dando seus conselhos de vida. Nas quais ele próprio não queria mais para ele.

Mesmo com todas as lutas e planos e viagens realizadas e idealizadas por Louisa, ajudada por Nathan e com o amor dos pais de Will e da irmã, o jovem Will não voltou atras com a sua decisão.

Apesar de não ser um livro feliz, é uma história impactante, a ponto de ser tão lido e comentado que acabou virando filme. É fascinante adentrar o mundo de Louisa Clarck e imaginá-la com suas roupas diferentes , extravagantes e coloridas, a sua personalidade, o seu amor por Will, a sua vontade de ajudar e a sua dor por uma amor que nunca sentiu de verdade com Will. E vivenciar na mente, o sagaz Will, com sua beleza de invejar, o seu forte temperamento e o seu amor em ajudar Louisa a viver um mundo melhor, é uma das sensações mais interessantes que Jojo Moyes nos proporciona. A autora traz uma tema forte e nos ensina através de Will que as decisões que tomamos podem impactar aqueles que estão próximos.

“Ser atirada para dentro de uma vida totalmente diferente — ou, pelo menos, jogada com tanta força na vida de outra pessoa a ponto de parecer bater com a cara na janela dela — obriga a repensar sua ideia a respeito de quem você é. Ou sobre como os outros o veem.”

As batidas perdidas do coração – Resenha

              As batidas perdidas do coração

Autor(a):Bianca Briones

Editora: Verus

 As batidas perdidas do coração é um dos melhores New Adult que eu ja li. O livro conta a história de dois personagens de realidades completamente diferentes:Viviane e Rafael.

Viviane é extremamente rica e cursa a faculdade de moda. Rafael é pobre e trabalha como barman em uma boate. Mas o que eles com realidades tão opostas podem ter em comum? Viviane acabou de perder o pai para o câncer. Rafael perdeu quase toda a familia em um acidente de carro.

Após se encontrarem em um hospital e mais tarde em um grupo de apoio, os dois começam a sentir uma forte atração um pelo outro. Bianca Briones além de nos presentear com essa linda história de amor, também aborda assuntos extremamente complexos como preconceito de classes sociais e dependência química, com uma sensibilidade impressionante.

Rafael sente que nasceu para sofrer e sente que nunca vai ser feliz depois de tantas perdas. Ao longo da leitura nós presenciamos como Rafael vai recuperando a esperança na vida e principalmente :a esperança em si mesmo.

“-Meu pai dizia que, quando descobrimos que estamos apaixonados, o coração fica tão assustado que pula um batimento, como se tivesse se preparando para todas as variações de velocidade que vai ter que enfrentar a partir daí. É o que ele chamava de “batidas perdidas do coração “. Segundo ele, o coração nunca recupera o ritmo correto até se encontrar no peito de outra pessoa. “

Resenha: A Maldição do Tigre

A Maldição do Tigre – Colleen Houck

 

   Em A Maldição do Tigre conhecemos a protagonista Kelsey Hayes, que ficou orfa ainda nova e vive com seus pais adotivos. Ela está atrás de um emprego de verão, e acaba conseguindo um em um circo que estava de passagem em Oregon, sua cidade. Seu trabalho era relativamente simples: ajudar em certas tarefas e alimentar os animais do circo – alguns cães e um majestoso tigre branco.

   Sem nem perceber, Kelsey acaba criando uma forte ligação com o Dhiren, o tigre, passando cada vez mais tempo em sua companhia. Em uma de suas visitas à jaula do mesmo ela encontra o Sr. Kadam, um homem simpático de idade que se diz interessado em levar o tigre para uma reserva, e lhe oferece uma ‘promoção’: acompanhar Dhiren – ou Ren, como passara a chamá-lo – em sua viagem à Índia, garantir que ele esteja bem cuidado e adaptado e então retornar para casa. Kelsey aceita sem suspeitas (algo que pessoalmente me incomodou, mas tudo bem a gente deixa isso passar) e segue nesta viagem.

Ja na Índia, a meio caminho da reserva, Kelsey se vê roubada, sem suprimentos e com um enorme tigre branco solto a seu lado, que repentinamente se transforma em um homem. E que homem. Confusa e assustada, ela ouve o que ele tem a dizer. No fim das contas, a lenda que ela ouvira uma vez sobre o Príncipe indiano era real. Ele e seu irmão foram amaldiçoados e forçados a forma de tigres, podendo se transformar em homens novamente apenas 24 minutos por dia. Ren lhe conta a historia e implora por sua ajuda, dizendo que ela pode ser sua única esperança de quebrar a maldição e se libertar.

 

Resenha: Zac & Mia – A.J. Betts

Zac & Mia – A.J. Betts

 

Livro: Zac & Mia
Autor(a): A. J. Betts
Editora: Novo Conceito
Páginas: 288

   Zac tem leucemia e está internado em observação à mais de quatorze dias após ter recebido um transplante de medula que poderá finalmente mudar sua vida. Com a companhia da mãe, seus jogos de palavras cruzadas e seu laptop, o adolescente de 17 anos está contando os dias para deixar o hospital e voltar para casa e para longe dos tratamentos e observações constantes dos médicos. Porém antes de receber alta, Zac recebe a notícia de que outro paciente está sendo instalado no quarto ao lado, mas diferente dos idosos que costumam chegar, o quarto é ocupado por uma menina de sua idade. Seu nome é Mia, e diferente de Zac, a menina reclama o tempo inteiro, grita com a mãe e escuta Lady Gaga a todo volume. Incomodado com o volume da música no quarto ao lado, Zac começa a comunicar-se com a menina através de tapas e socos na parede, mas quando recebe uma solicitação de amizade de Mia através do facebook é que Zac começa a descobrir e entender mais sobre a nova colega.
   Mia é linda, filha de mãe solteira e garota mais popular da escola. Com seu grupo de amigos descolados e o namorado perfeito, a garota costumava ser o centro das atenções de todos e só pensava em curtir a vida. Sem preocupar-se com os conselhos da mãe e com a constante dor em seu tornozelo, Mia não aceita quando é diagnosticada com osteosarcoma. A partir daí a personagem começa a viver em negação, culpando tudo e todos que tentam chegar perto o suficiente para tentar ajudá-la.
   Contada pelo ponto de vista de Mia e Zac, acompanhamos a doença dos personagens em diferentes estágios e a amizade que vai surgindo entre eles. Enquanto Zac está finalizando o tratamento e voltando para casa mais saudável, Mia está apenas no início, e com isso precisa passar por diferentes estágios da quimioterapia. Nesse momento a menina precisará de apoio e paciência para conseguir a força necessária para manter-se confiante a cada sessão – mesmo quando seus cabelos caem, ou quando não há forças para andar ou continuar a existir.
   Para quem busca um romance sensível e envolvente, certamente irão se emocionar com a história criada por A.J. Beatts.

Resenha e Recomendação: Anjo Mecânico

 Anjo Mecânico – Cassandra Clare

“Sempre se deve ter cuidado com livros – disse Tessa -, e com o que está dentro deles, pois as palavras têm o poder  de nos transformar.”

Anjo mecânico apresenta o

mundo que deu origem à série Os Instrumentos Mortais, sucesso da Cassandra Clare (❤). Nesse primeiro volume a protagonista Tessa Gray conhece o mundo dos Caçadores de Sombras quando precisa se mudar de Nova York para a Inglaterra depois da morte da tia. Quando

chega para encontrar o irmão Nathaniel, seu único parente vivo, ela descobre que é dona de um poder capaz de despertar uma guerra mortal entre os Nephilim e as máquinas do Magistrado, o novo comandante das forças do submundo.

Tessa acaba sendo acolhida pelos Caçadores de Sombras ao ser encontrada por Will Herondale, um caçador quase que imprudente que desperta a curiosidade de nossa protagonista. Ao ser levada para o Instituto, onde os caçadores locais se instalam sem que os mundanos os enxerguem, Tessa conhece as pessoas que virão a mudar completamente sua vida: Charlotte Branwell, a diretora do Instituto e seu esposo, Henry; Jessamine Lovelace, tutela do Instituto; e ouso dizer o maior acerto de sua vida – juntamente com Will – James Carstairs.

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Os Incompetentes para a Vida

“O intervalo que me separa de meu cadáver é uma ferida para mim; todavia,
aspiro em vão às seduções da tumba: não podendo separar-me de nada, nem
cessar de palpitar, tudo em mim assegura-me que os vermes permaneceriam
inativos sobre meus instintos. Tão incompetente na vida como na morte, odeio-me,
e neste ódio sonho com outra vida, com outra morte. E por haver querido ser
um sábio como nunca houve outro, sou apenas um louco entre os loucos…”                                                                                                                  [Breviário de Decomposição, E. M. Cioran]

“Afinal, isto bem me contentaria se eu conseguisse persuadir-me que esta
teoria não é o que é, um complexo barulho que faço aos ouvidos da minha
inteligência, quase para ela não perceber que, no fundo, não há senão a minha
timidez, a minha incompetência para a vida.”                                                                                                                                                              [Livro do Desassossego, Fernando Pessoa]

Contemporâneos por estarem igualmente fora do tempo, Cioran e Fernando Pessoa eram tipos solitários, viviam em mansardas, caminhavam sem rumo pela cidade ou pelo campo; eram misantropos, sim, mas não pessimistas como podem levar alguns a crer. “Eu não sou pessimista, sou triste.” diria Fernando Pessoa… ou Cioran? A escrita de ambos é tão única e tão semelhantes entre si são seus escritos que um parece ser o comentador da obra do outro. O tédio, a solidão, o vazio, a tristeza, o desespero, a morte, a ilusão, o sonho, o tempo e a eternidade, os santos, Deus e o diabo são temas recorrentemente assediados por estes dois filósofos órfãos de qualquer Verdade/Doutrina/Sistema… enfim, carentes de uma qualquer forma sólida de consolação.

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Fumaça no Quintal [trecho de conto]

[Olá pessoal! Mando o inicio de um conto meu “Fumaça no Quintal”, escrito lá por 2017/2018. Espero que apreciem!]

 

FUMAÇA NO QUINTAL

Mais um dia canhestro arremedando os anteriores. Prometendo surpresas raquíticas e inúteis, como uma chuvinha fraca no ardor da tarde, que nem pra fazer aparecer um meio arco-íris se presta. Foi o que pensei ao despertar. Acordei devia ser umas seis horas; pelas frestas do telhado já se notava uma luz cinzenta, fria e pálida (havia outros adjetivos para a luz só que menos eloquentes e que não têm porque fazer figuração neste relato. Quer dizer… escrevi sem pensar. Isto é um relato? Não sei ao certo. Desconheço acertos. Há erros, isto sim, isto é a verdade) Mais uma hora e me levanto, pensei. Despertar adiando, eis a tragédia capenga que rasteja incessantemente pelos meus dias, como um mendigo perambulando sempre pela mesma área, no mesmo ponto.

Alguém passa/Pensando/No eterno.

Montei e desmontei esses versinhos. Não lembro onde que eu li isso, certamente sobejo de algum poeta frustrado, um desses tipos que servem pra engrossar volume de antologia literária regional. O que significava? Aí surgiu o sol dourando sem literatura, senti uma frescura nos ossos dos pés e me espichei como um gato. Não gosto de gatos, são muito indolentes pro meu gosto; entretanto, possuem uma sensualidade assustadora que me excita mais do que devia. Com cuidado, o pé procurou as sandálias pelo chão frio, se meteu debaixo da cama, vacilante, a areia fininha grudando desde cedo nos dedos, irritante! O pé esquerdo encontra a sandália do direito.

Pulei da cama, escancarei as janelas e dei uma mijada, por ali mesmo, no quintal. Formou um laguinho e as formigas, curiosas, vieram logo dar uma espiada. Averiguaram a jazida cor de amarelo-ovo-cozido, pareciam interessadas em transportar o liquido para a artéria de terra instalada na parede. Na verdade tal túnel era de propriedade dos cupins: trabalharam, projetaram e, por muitos anos, utilizaram-no para o interesse de seu povo. Até que veio a peste e dizimou tudo quanto era espécie destes nobres bichinhos da terra, desta pelo menos, e sobrevieram as formigas com discreto gesto de ocupação dos empreendimentos, que os cupins, gênios incompreendidos mesmo depois de mortos, relegaram ao quintal de casa.

É uma bela história, mas como termina? Cheguei à conclusão: história nenhuma possui desfecho; mas isso não me consola. Lentamente fui peneirando a ideia de incompletude, queria ver onde ia dar, mas o pensamento acabou adentrando num atalho obscuro. Aí a velha gritou meu nome, já tinha preparado o café. A velha. Ela é muito esquisita, coitada, parece uma meia suja esquecida num sapato velho, não vai para a igreja como todas as velhotas daqui, tampouco se dá com elas, possui até certo desprezo, sempre diz que não é nem uma galinha de cu caído pra ficar cacarejando alto em missas, cantando piedade, alteando glórias, ciscando salvação. Sua cara é tão cheia de dobras que parece a escadaria larga de algum antigo templo, oculto da vista de tudo e todos, quase não sai desta propriedade que herdou de um parente desconhecido que já morreu. Não sei o que esta velha é para mim; a estimo muito, claro, mas desconheço qualquer nó de sangue que nos una. Desde que me lembro sempre a chamei pelos mais variados nomes: tia, avó, tia-avó, mãe, senhora; e desconfio que se começasse a chama-la de cachorro, periquito, papagaio, saúva, não estranharia nada. É sobretudo uma mulher singular.

Olho novamente pela janela. A imagem do quintal me deixa melancólico, ainda mais quando é cedo ou tarde demais. Parece uma pintura, mas é uma imagem única, de tal modo, que nunca deve ter sido pintada. Como não nasci com mão para aquarelas, mas sim para querelas, tentarei na medida do possível (ou seja: até que a tarefa se torne aborrecida e eu vá procurar fazer outra coisa) descrevê-la tendo a melhor das intenções, que é não a de ser fiel a realidade, mas a de transmitir nitidamente o contorno sombreado e impreciso das plantas, pedras e do pau seco ao centro, antigamente um jambeiro infrutífero. Da janela onde, privilegiadamente, revejo a paisagem naturalmente domesticada chamada de quintal, observo o muro baixo, passarela para as gatas da vizinha, ponto de pouso para os passarinhos e autoestrada para os ratos. Um muro, em sua quase totalidade, úmido pelo contato tão próximo das plantas que o roçam obscenamente em seus cantos mais escuros. As bordas do terreno se mostram taludas e florescentes; o centro é mais seco, daninhas pisadas e lascas de lajotas. De vez em quando um novo vulcãozinho expelindo saúva fresca, situado pelo toco do jambeiro. Ex-jambeiro. Alma morta.

 

O pires da xícara está desaparecido. Tomo café com bolacha Marília. A Tia (hoje vou chamar a Velha de Tia) A Tia ficou puta quando reparou a embalagem com os dizeres: BOLACHA MARÍLIA, TORRADINHA “Desde quando a gente come isso aqui em casa?” Pergunta natural, mas ela falou com tal rompância, com tanto condimento de brutalidade, que fiquei caiado de espanto. “Esta marca…” Pegou uma do pacote e levou á boca. “Bolacha velha ruim. Disse que era pra comprar a outra costumeira” Pois nem reparei a diferença. O que é que a bolacha tem? Vejo sua fachada: cinco andares, cada andar com cinco janelas, totalizando 25 aberturas, que alimento mais arejado!  E a tia mesmo assim a despreza! Qual a opinião das formigas sobre isto? Corri para o quarto com migalhas na mão. As pequenas haviam desaparecido, e o meu xixi, ao que tudo indicava, a terra já bebera.

A manhã está á toda: a luz acorda por completo, as sombras se espreguiçam em frente dos muros, das árvores e de outros troços mais absurdos. Não há mais tempo a perder para alguns, há tempo suficiente para outros, e – todos – contam com ele.

Vasculhei o dia.

Interessado no assassinato da barata. Corpo encontrado num balde d’água, boiando, umbigo pra cima, líquido branco recobria parte de sua face; a morta apresentava sinais de decomposição, antenas separadas da cabeça, dois gravetos flutuando na água. Daqui dá pra espremer uma história, pensei. Á maneira daqueles programas de TV em que aparecem mortes sobre mortes, como se fossem enredos por cima de enredos, empilhados, tantas versões. O melhor é os desaparecidos: com quem por último? Era famoso? As câmeras de segurança! Será que o próprio parente… Há, barata! Sua morte não me diz nada, mas a história por trás… qual será?

De repente o ar se torna nublado. A vizinha botou fogo nas folhas secas, já é a segunda vez que faz isso nesta semana, parece até que tem tanta coisa pra queimar. “Essa afrescalhada tem mais que fazer não? Acabei de pendurar as roupas… Ora merda” Pobre Tia. Impossível continuar no quintal. Dentro é quase tão insuportável como fora de casa, a fumaça espessa, indeciso se fechava ou abria as janelas, prendo a respiração, fecho os olhos, sufoco. “Como fede! Aposto que tá queimando papel de bunda, como a pessoa pode ser tão ordinária, menina?” Será? Analisando o muro, há vários buracos secretos, me aconchego numa vista para receber á imagem do quintal alheio. A vizinha: nunca pessoalmente. Ela queima com prazer, os braços estendidos, como se glórias desse, a quem? Cai um cisco no olho, coça, esfrego num murro, nada enxergo.

 

Atravesso à tarde que nem uma osga sem rabo enfrenta o descampado da parede, devagar quase parando. No centro da mesa da cozinha, a garrafona de água suava. Apesar da quentura infernal o liquido estava por demais gelado, desceu ralando o joelho da minha garganta. Dor de cabeça deixou a vontade mofina, larguei um sono ali mesmo na cozinha, encostado ao fogão. Sono de pedra, sonho de musgo. A dormida durou até a boca da noite se alastrar num sorriso de estrelas. Nestas horas sempre me detenho na vaga sensação de desperdício; saio para o quintal, me vejo mijando nas teias de aranha abandonadas, construídas sobre as plantas da Tia. Engraçado, o laguinho brilha como se estivesse de manhã. O rebanho de formigas se achega, rebanho não, multidão. Mesmo na escuridão da de ver o montueiro, se espraiando em torno do meu ouro morno. Carregam cuias minúsculas, pouco a pouco, mas ligeiramente, rebocam todo o meu xixi. Vão seguindo. É bonito. Lembra a procissão luminosa de Nossa Senhora, ou um bando de vagalumes aleijados da asa caminhando de emigração. Em que direção? Uns vão para o jambeiro, ex-jambeiro, pau-seco, enfim. Outros se dispersam pelas veias da terra, e ainda há um grupo que se direcionam ao muro, para a casa da vizinha. A fumaça recomeça. Entro em casa. Acendo a luz e fecho as portas e janelas.

Raul Lucas Padilha Costa

Resenha: Até Quando? O Vai e Vem

Título: Até Quando? O Vai e Vem
Autora: Christiane De Murville
Editora: Chiado
Páginas: 281

–   Resenha   –

João acreditava que a vida era injusta. Ele odiava seu emprego como servente de pedreiro, odiava as pessoas ao seu redor e odiava a si mesmo.

Era uma pessoa amarga sem qualquer sonho ou vontade de mudar o mundo ao seu redor ou a si mesmo. Porém, em um dia qualquer no trabalho, ele acaba se acidentando e morre tragicamente.

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Clube do Gueto