O conceito de literatura negra consolidou-se em meados do século XX, com o surgimento e o fortalecimento dos movimentos negros. A pesquisadora Maria Nazareth Soares Fonseca pontua que a gênese das manifestações literárias negras em quantidade deu-se na década de 1920, com o chamado Renascimento Negro Norte-americano, cujas vertentes – Black Renaissance, New Negro e Harlem Renaissance – resgatavam os vínculos com o continente africano, desprezavam os valores da classe média branca americana e produziram escritos que constituíram importantes instrumentos de denúncia da segregação social, bem como direcionavam-se à luta por direitos civis do povo negro.
Segundo Fonseca, foi essa efervescente produção literária a responsável pela afirmação de uma consciência de ser negro, que depois espalhou-se para outros movimentos na Europa, Caribe, Antilhas e diversas outras regiões da África colonizada.
É importante ressaltar que há diversas tendências literárias dentro do conceito de literatura negra. As características mudam de acordo com o país e o contexto histórico em que o texto é produzido, de modo que a literatura produzida no início do século XX nos Estados Unidos foi diferente daquela produzida em Cuba (o chamado Negrismo Crioulo), que por sua vez diferiu das publicações do movimento da Negritude, nascido em Paris, na década de 1930, bem como a produção negro-brasileira teve suas próprias peculiaridades, pois a experiência de ser negro em cada um desses territórios é também diversa.
Embora o conceito de literatura negra tenha aparecido apenas no século XX, a produção literária feita por negros e abordando a questão negra existe no Brasil desde o século XIX, mesmo antes do fim do tráfico negreiro. É o caso dos poucos lembrados (e abolicionistas) Luiz Gama e Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista negra da América Latina e seguramente a primeira autora mulher abolicionista da língua portuguesa.
É o caso também dos célebres Cruz e Sousa, ícone do movimento simbolista, do pré-moderno Lima Barreto e do maior escritor da literatura brasileira, Machado de Assis – este último, constantemente embranquecido pela mídia e pelas editoras, a ponto de muita gente desconhecer que era negro.
Os mais de três séculos de escravidão normalizaram, no Brasil, a exclusão cabal da população negra da participação cidadã e sua incorporação aos meios oficiais de cultura. Resistindo nas franjas desse sistema, a intelectualidade negra fundou, em 1833, o jornal O Homem de Cor, publicação de cunho abolicionista, uma entre várias que se manifestaram em número cada vez maior ao longo do século XIX e XX, reivindicando as pautas que os outros veículos de mídia não contemplavam.
A imprensa negra, aliás, é uma pedra fundamental da imprensa brasileira, de modo que a própria Associação Brasileira de Imprensa (ABI) foi fundada por um escritor negro, Gustavo de Lacerda.