Ruiva Moça

Era uma simples manhã, como qualquer outra de dias normais. Neste dia,
era preciso a resolução de algumas coisas no centro da cidade. Já que
automóvel não possuo, usei da condução. De o meu acordar ao meu
caminhar ao ponto de ônibus, meu espírito era de puro tédio.
Ao chegar ao ponto de ônibus, pouco esperei até a chegada da condução
que me era necessária. Subi ao ônibus, executei os procedimentos padrão
de qualquer outro passageiro. Porém ao momento que passei à catraca,
meu tédio pareceu deixar de habitar em meu espírito. Avistei um bela
moça ruiva, ela não fitou-me, creio que estava a contemplar a paisagem
urbana. Então, como força do destino, havia um lugar vazio ao seu lado.
Mesmo que eu quisesse sentar-me a outro local, não era possível, pois
apenas aquele havia disponível. Encaminhei-me ao assento e sentei-me,
retirei um livro de minha mochila e iniciei a leitura.
Contudo eu não conseguia me concentrar nos escritos de Machado. O
perfume da bela senhorita, tirou-me os sentidos e deixou apenas o olfato,
aquela fragrância era maravilhosa, nunca tivera sentido algo tão delicioso.
Embriaguei-me naquele doce perfume. Mesmo fixo nas páginas da obra,
olhava-a com os cantos dos olhos e ao máximo tentava contemplar
aquela beleza única. Por alguns segundos, mergulhei na fantasia, e
toquei-lhe a pele branca, senti seu perfume diretamente da fonte, e
enlacei meus dedos em seus lindos cachos ruivos.
Mas os segundos são pouco duráveis, não assemelham-se a horas, dias ou
uma inteira vida. Voltei de meu rápido sonho por força maior, meu
compromisso. Ali fiquei sentado, sem muito que pensar e sem forças para
algo dizer para uma conversa tentar iniciar, não tive um único gesto.
Assim segui a viagem, quieto, calado, embriagado.
Em belo momento, vi um fio de seu cabelo pairar no ar e repousar sobre a
página que tentava ler. Peguei-o, e senti como se fosse suas macias mãos.
Enchi-me de ânimo, eu parecia começar a ferver, e algo gritava-me para
com ela dialogar, a cada instante que recusava, essa voz ficava mais alta,
ao ponto de me ensurdecer. Várias emoções consumiam-me, não havia
tédio algum em minha alma, apenas um vulcão que deixou-me febril.
Então a vida com sua liquidez flui, e à ruiva moça, pediu-me licença para
descer, maquinalmente dei-lhe passagem, ela foi-se.

Camisa Verde-Amarela (Conto)

“Hoje tem jogo do Brasil”, anunciava o comercial da programação esportiva na Televisão

– Menos de três, nem comemoro.

Papai parecia um cientista que estando convicto dos seus cálculos, antecipava os resultados finais. Demonstrando impertinência, não curiosidade, tive que intercedê-lo.

– Pai. A Argentina foi muito bem nas últimas partidas, eles estão na ponta da tabela. Por que seríamos favoritos? Andamos mal das pernas nestas rodadas mais recentes.

– E o que importa? Quem são os argentinos frente a nossa camisa? Todas as seleções tremem ao vê-la, dizia ele colocando o dedo em riste sobre o peito coberto pela vestimenta.

– Tremem?

– Sucumbem a tradição

– Tradição?

– Você logo entenderá

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Síndrome do Apego

Alguém outro dia, postou aqui sobre ideia do não se desfazer. Usou como exemplo os livros que muitas vezes compramos e deixamos de lado na estante. Aqueles livros que nunca nos desfazendo mesmo sem le-los. Achei o assunto interessante e decidi comentar o que penso.

Quando somos crianças essa Síndrome do Apego (a qual eu gosto de chamar essa obsessão em não desapegar) faz com que relutemos em emprestar nossos brinquedos para outras crianças ou até mesmo de doa-los para aquelas que não têm nada.

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Clube do Gueto