Alguns motivos para escrever (e ler) poesia

COLOCAR EM PALAVRAS O QUE SENTE

É como se o que se sente e as palavras escritas se encaixassem perfeitamente, como se o sentimento ali colocado tivesse o poder de criar forma. Escrever é como colocar em exposição o peito aberto numa vitrine para quem quiser ver, é deixar que todos saibam o que se passa no seu interior é deixar que te explorem mesmo que não te conheçam intimamente. Ler também é deixar que te explorem, mas nesse caso não são pessoas, são as próprias palavras, é cada pontuação, cada verso, cada estrofe, cada rima. No fim das contas escrever ou ler é fazer uma terapia onde o psicologo se chama estrofe.

AUTOCONHECIMENTO

Poesia antes de qualquer coisa é verdade, é o que somos e como somos, como se diz aqui o ceará é o “batido e sacudido” não se escreve uma poesia sem sentir o que está escrito e do mesmo modo não lemos poesias quando não nos identificamos com ela. Lemos e escrevemos o que queremos ouvir, ou o que queremos saber sobre algo, e se escrevemos o que queremos e lemos o que escrevemos acaba que no final conhecemos mais de nós mesmos.

LAVA A ALMA 

Esse é o motivo que eu particularmente mais gosto, a sensação depois de tudo, a paz de espírito depois de ler algo que achamos muito bom, ou algo que era necessário ser lido para conseguir lidar com alguma situação. Melhor que isso só quando terminamos de escrever e aquilo que estava entalado na garganta nos sufocando a cada respiração sai e podemos viver livres novamente.

E foi isso, espero que tenham gostado e que alguém tenha ficado animado para ler ou escrever algo. Eu já escrevo, então essas são palavras de quem vive o ler e o escrever regularmente. A poesia é quase um puxadinho da alma. Até depois (se eu tiver a coragem de escrever novamente) bjtchau.

 

Em cada esquina uma História

Viramos na Serzedello Corrêa e notei que o trânsito irritava meu marido, as plaquinhas eram pequenas demais e o fluxo dos carros muito louco, carros cortando pela direita ora pela esquerda. Tinha-se que dirigir por si e pelo próximo, considerando que o próximo poderia ser uma bicicleta, uma moto ou pedestre…

Não restavam dúvidas que um bom assunto distrairia nossas mentes daquele furdunço. Falar das ruas como acessos e movimentação urbana é procurar afirmar a condição psicológica de masoquista. Na minha Belém, é quase que a mesma coisa que falar do seu torturador. Mas encontrei uma forma de tratar a rua como um amigo, e me dei conta do quanto às ruas de Belém representam o que somos como povo.

E por uma única rua, percebi o quanto de formação histórica e social nosso povo tem, e agora… imagine isso num mapa da cidade! Por isso Serzedello Corrêa foi a rua que deu início a vontade de percorrer minha cidade com zelo e carinho, percebendo que em cada esquina havia uma história:

“Sabia que Serzedello Corrêa foi quem instituiu o Tribunal de Contas da União no Brasil? Isso mesmo, esse TCU que sai todo dia no noticiário da TV.

Serzedello Corrêa foi paraense, nasceu em Belém em 1858. Foi Ministro da Fazenda em 1892, na presidência de Floriano Peixoto. E, dizem que renunciou o cargo por não concordar com as certas interferências da independência da corte de contas.

Não percebemos as histórias se encontrando quando olhamos somente para um fato isolado, mas Serzedello Corrêa foi contemporâneo de vários fatos do mundo! Sabia que com 30 anos, Serzedello Corrêa viu a promulgação da Lei Áurea. Já aos 40 anos, ele viveu num Brasil onde o Vidal Brasil anunciou em 1898 a criação do soro contra mordida de cobra!

Por essa época também, caso Serzedello Corrêa fosse algum tipo de folião, ele possivelmente pulou carnaval com o famoso “Ó Abre Alas” da Chiquinha Gonzaga, marchinha que até hoje ouvimos no carnaval! E no último ano do século XIX (1899), Machado de Assis publicou Dom Casmurro, muitos leram para fazer prova de vestibular. Provavelmente Serzedello Corrêa leu sobre o romance de Bentinho e Capitu.

Serzedello Corrêa

Ele foi um homem brilhante em seu tempo, e eu acredito que até hoje é exemplo. No livro Vultos Notáveis do Pará Serzedello aparece como um político que participou da história do Brasil ativamente.

A história sobre a República tem nomes de peso que ouvimos muito por toda Belém, e provavelmente pelo Brasil inteiro, que batizam nossas ruas, Benjamim Constant, Rui Barbosa, Quintino Bocaiúva, Generalíssimo Deodoro são exemplos; personalidades que fizeram a história acontecer juntamente com Serzedello Corrêa.

O legal é percebermos as demais histórias que nossas ruas nos contam, por exemplo, pelos cruzamentos da Serzedello Correa podemos encontrar as histórias dos povos indígenas brasileiros como os Mundurucus, os Pariquis e os Caripunas, nome de outras ruas organizadas em grupos.

A Avenida Serzedello Correa possui outras grands histórias à parte da personalidade do político paraense, possui, por exemplo, o Cemitério mais antigo de Belém o Soledade, construído em 1850 na época que febre amarela, cólera e varíola dizimaram muito da população da cidade, o cemitério foi desativado em 1880, a rua há muito tempo atrás, era conhecida como Rua do Cemitério. A melhor parte da Avenida Serzedello é sem dúvida a Praça Batista Campos, lugar que faz parte do imaginário e do coração de todo belenense. O Cônego Batista Campos tem também sua história, uma rica e longa jornada de ideais que marcou o destino do que é hoje nossa cidade e nosso estado, e é outro capítulo das nossas esquinas.”

A estante do vovô

Todo início de relação tem sua fase de encantamento. Minha relação com os livros surgiu do encantamento por uma estante. A estante do vovô.

A estante do meu avô paterno era pequena, tinha no máximo umas quatro prateleiras, era de uma madeira escura e vivia fechada, mas toda vez que íamos visitá-lo, fatalmente entre uma troca e outra de idéias entre meu avô e meu pai, a estante se abria.

Abri-la era como estar diante de um Portal, um mundo diverso do meu, tudo nele me encantava: o cheiro dos livros, o barulho do trilho da porta, o mexer dos livros, a textura das capas, a estante e seus livros eram hipinóticos.

Estava consumado nosso compromisso, um pacto de paixão e cumplicidade: Eu e a estante de livros do meu avô. E cresci embalada pelas histórias que ele contava, pelos debates políticos entre meus tios e ouvia atenta as lendas amazônicas que daqueles livros guardados saiam toda vez que a luz faltava. Foi desse modo, simples e ruidoso, que minha paixão pelos livros começou.

Essas memórias estão sempre vivas, porque devo deixar também vivo meu avô, sua essência e sabedoria, tudo nessas lembranças fez de mim a leitora que sou hoje; e se depender de mim não há de se perder uma única linha que salta das estantes. Porque dessa vida só deixamos lembranças e levamos nossas experiências.

E dessa forma, entre estantes e livros caminho para liberdade, e desejo ao fim da vida poder deixar um o legado: Leitores e Encantados por livros. Pois a maior lição que a estante do meu avô me deixou foi perceber que ler liberta! Liberte-se.

Clube do Gueto