Soneto de Fidelidade (Vinicius de Moraes)

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

MOTIVO (Cecília Meireles)

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Vento no Litoral – Renato Russo

De tarde quero descansar, chegar até a praia e ver
Se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras
Sei que faço isso para esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora

Agora está tão longe
Vê, a linha do horizonte me distrai:
Dos nossos planos é que tenho mais saudade,
Quando olhávamos juntos na mesma direção

Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?

Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo o tempo todo

Quando vejo o mar
Existe algo que diz:
– A vida continua e se entregar é uma bobagem

Já que você não está aqui,
O que posso fazer é cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos
Lembra que o plano era ficarmos bem?

– Ei, olha só o que eu achei: cavalos-marinhos
Sei que faço isso para esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora

Poema Game of Thrones

No fim do mundo eu me perdi

Infinitas vezes

Em infinitas vidas

Pelas terras do Vale eu caminhei

Morri e renasci

Sob o sol poente

A brisa do Mar de Verão

Carregou minhas cinzas pela Campina

Até eu ressurgir

Diante do trono supremo

Na Fortaleza Vermelha e ardente

Construída em cima de mortes sofridas

Pavimentada com sangue inocente

Deixei minha alma adoecida

Seguir em frente outra vez

Como em minhas outras infinitas vidas

E novamente eu me deparei

Com o frio congelante do Norte

O fogo ancestral de Valíria

A ira dos leões do rochedo

A chama fervente da morte

Por cem mil anos eu andei sem rumo

Pela terra e pelo mar

Não me reverenciei aos sete

Aos novos, aos velhos

Não sacrifiquei vidas em vão

Não condenei qualquer um a fogueira

A ficar sem cabeça

A viver nas masmorras

Ou a perder a mão

Apenas me perdi no fim do mundo

Infinitas vezes

Em minhas infinitas vidas

Até eu voltar a ser cinzas

E não ter mais de ver com meus olhos

A fúria da Guerra dos Reis

Baseado na obra original de George R. R Martin, As Crônicas de Gelo e Fogo

Lirismo – Manuel Bandeira

Carolina

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores – restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

Necessário

Qual livro na sua opinião deve ser lido por todo mundo.

Eu acredito que “Os Miseráveis” é essencial. É um livro que mostra a sociedade como ela é.

Mostra a miséria, os conflitos e tudo que vivemos hoje, embora seja um livro antigo.

Recomendo pra caramba!

Borboletas (Manoel de Barros)

Borboletas me convidaram a elas.
O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.
Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens e das coisas.
Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta seria, com certeza,
um mundo livre aos poemas.
Daquele ponto de vista:
Vi que as árvores são mais competentes em auroras do que os homens.
Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças do que pelos homens.
Vi que as águas têm mais qualidade para a paz do que os homens.
Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que os cientistas.
Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do ponto de vista de
uma borboleta.
Ali até o meu fascínio era azul.

Clube do Gueto