Todo início de relação tem sua fase de encantamento. Minha relação com os livros surgiu do encantamento por uma estante. A estante do vovô.
A estante do meu avô paterno era pequena, tinha no máximo umas quatro prateleiras, era de uma madeira escura e vivia fechada, mas toda vez que íamos visitá-lo, fatalmente entre uma troca e outra de idéias entre meu avô e meu pai, a estante se abria.
Abri-la era como estar diante de um Portal, um mundo diverso do meu, tudo nele me encantava: o cheiro dos livros, o barulho do trilho da porta, o mexer dos livros, a textura das capas, a estante e seus livros eram hipinóticos.
Estava consumado nosso compromisso, um pacto de paixão e cumplicidade: Eu e a estante de livros do meu avô. E cresci embalada pelas histórias que ele contava, pelos debates políticos entre meus tios e ouvia atenta as lendas amazônicas que daqueles livros guardados saiam toda vez que a luz faltava. Foi desse modo, simples e ruidoso, que minha paixão pelos livros começou.
Essas memórias estão sempre vivas, porque devo deixar também vivo meu avô, sua essência e sabedoria, tudo nessas lembranças fez de mim a leitora que sou hoje; e se depender de mim não há de se perder uma única linha que salta das estantes. Porque dessa vida só deixamos lembranças e levamos nossas experiências.
E dessa forma, entre estantes e livros caminho para liberdade, e desejo ao fim da vida poder deixar um o legado: Leitores e Encantados por livros. Pois a maior lição que a estante do meu avô me deixou foi perceber que ler liberta! Liberte-se.