SONHO OU VISÃO – Maria Firmina dos Reis

SONHO OU VISÃO?

 

Tu vens rebuçado

Nas sombras da noite

Sentar-te em meu leito;

Eu sinto teus lábios

Roçar minhas faces

Roçar no meu peito.

Não sei bem se durmo,

Se velo ─ se é sonho,

Se é grato visão:

Só sei que arroubada

Deleita a minh’alma

Tão doce ilusão.

Depois, um suspiro

Que cala mais fundo

Que prantos de dor;

Que fala mais alto

Que juras ardentes,

Que votos de amor,

Vem lento ─ pausado

Do imo do peito

Nos lábios ─ morrer…

Eu amo de ouvi-lo,

Pois desses suspiros

Se anima o meu ser.

Mas, ah! não me falas…

Teus lábios, teu rosto

Só tem um sorriso.

Depois vaporoso

Vai todo fugindo

Teu corpo ─ teu riso.

Então eu desperto

Do sonho ─ ou visão,

Começo a cismar;

E ainda acordada

Invoco em delírio.

Falta o verso final desta estrofe, em todas as fontes.

Oh! Vem no meu sono

Imagem querida

Pousar no meu leito

Com lábios macios

Roçar minhas faces

Pousar no meu peito.

“Escritoras Brasileiras do Século XIX ─ Antologia”, páginas 283 e 284, Zahidé Lupinacci Muzart (organizadora), Editora Mulheres e Editora da Universidade de Santa Cruz do Sul (EDUNISC), Florianópolis, SC, 1999.

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