Confesso que só comprei “Meu pequeno país” porque queria uma outra voz falando do genocídio de Ruanda. E no início eu não estava gostando, o genocídio foi tão absurdo, que esperava um épico… Fui incauta e arrogante, esqueci que era uma criança contando sua história, e como tal, o genocídio estava lá, era a sombra que aquela criança duramente teve que conviver.
Duramente Gaby, nosso personagem principal, não entendia o por quê dos adultos se odiarem pois eram tão parecidos, eram humanos. Por que as diferenças deveriam lhe importar? Por que ele deveria crescer sendo infeliz?
Para Gaby, seu mundo perfeito estava ali naquele beco sem saída (sua rua) com seus pais e sua irmã, seguros na vida tranquila de um filho de pai francês e mãe ruandesa. No seu el dourado também havia espaço para seus melhores amigos, inseparáveis nas traquinagens e conversas no esconderijo secreto.
Gaby, só tinha 10 anos quando começou a perder tudo o que mais estimava, mas só percebeu que seu pequeno país ruía quando a tragédia bateu em sua porta em 1994, ano que o genocídio entrou para história da humanidade.
E olhando de longe, aquilo não parece ter conexão com nossa vivência latina, percebemos as experiências de violência que Gaby testemunhou, e nelas enxergamos os “genocídios” que também vivemos dia a dia. Como Gaby, temo reagirmos somente quando à porta, a desgraça nos sorrir.
Uma constante em todo livro é a busca pelo pertencimento de Gaby, pois naquela sociedade ele era ora francês ora tutis, e para ele, apenas um garoto.
Quem salvou Gaby foi a leitura, e pela presença dos livros em sua vida também teve seu resgate afetivo; pela leitura Gaby se blindava diante da onda de atrocidades que lhe assombrava o passado.
De fato o livro me surpreendeu, na ansiedade de ver os fatos históricos, não percebi que havia ali a construção de um ser humano, que ali havia um menino, vítima da insensatez dos adultos, em busca de sua identidade e de um lugar para chamar de seu.
No final, adorei a história, sensível e sonora, apesar de toda a tragédia e tristeza que o genocídio traz em si.
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Meu pequeno país – Gael Faye

Parece um livro impactante