Cismar

CISMAR

À MINHA QUERIDA PRIMA ― BALDUÍNA N. B.

 

Quando meus olhos lanço sobre o mar,

Augusto ─ o seu império contemplando;

Quer tranquilo murmure ─ ou rebramando,

Expande-se meu peito extasiado.

Corre minh’alma pelo céu vagando,

Sobre seres criados ─ Deus buscando…

E fundo, e deleitoso é meu cismar.

Se ronca a tempestade enegrecida,

Pavoroso trovão rouqueja incerto;

As nuvens se constrangem, o céu aberto

Elétrico clarão vomita escuro:

Ao Deus da criação, ao rei da vida

Elevo o pensamento, e o coração…

Cresce, avulta, e aumenta a cerração

E em meu vago cismar só Deus procuro;

Se plácida no céu correndo vejo

─ A lua ─ o mar, as serras prateando,

Qual áureo diadema cintilando

Em casta fronte de pudica virgem,

Em meu grato cismar só Deus almejo…

Bendiz minh’alma seu poder imenso!

Bendiz o Criador do Orbe extenso,

Que os outros rege ─ que seu trono cingem.

E bendigo depois a minha dor,

Meu duro sofrimento, ─ o meu viver…

Porque pode apagar, fundo sofrer

As feias culpas do existir da terra.

Oh! sim minh’alma te bendiz Senhor.

Quando cismando se recolher triste…

Bendiz o eterno amor, que em ti existe,

O imenso poder que em ti se encerra!!…

Fonte

“Cantos à Beira-Mar e Gupeva”, Maria Firmina dos Reis, Academia Ludovicense de Letras, São Luís (MA), 2017.

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