Romeu e Julieta

Romeu: Eu juro, pela Lua abençoada, Que banha em prata as copas do pomar…

Julieta: Não jure pela Lua, que é inconstante, E muda, todo mês, em sua órbita, Pro seu amor não ser também instável.

Romeu: Por que devo jurar?

Julieta: Não jure nunca. Ou, se o fizer, jure só por si mesmo, Único deus de minha idolatria, Que eu acredito.

Romeu: Se meu grande amor…

Julieta: Não jure, já que mesmo me alegrando O contrato de hoje não me alegra: Foi por demais ousado e repentino, Por demais como o raio que se apaga Antes que alguém diga “Brilhou”. Boa-noite. Este botão de amor, sendo verão, Pode florir num nosso novo encontro. Boa noite, ainda. Que um repouso são Venha ao meu seio e ao seu coração.

Romeu: Mas vai deixar-me assim, insatisfeito?

Julieta: E que satisfação posso hoje eu dar?

Romeu: Sua jura de amor, pela que eu dei.

Julieta: Eu dei-lhe a minha antes que a pedisse; Bem que eu queria ainda ter de dá-la.

Romeu: E quer negá-la? Mas pra quê, amor?

Julieta: Só pra ser franca e dá-la novamente; Eu só anseio pelo que já tenho: Minha afeição é como um mar sem fim, Meu amor tão profundo. Mais eu dou Mais tenho, pois são ambos infinitos. Ouço um ruído. Até mais, amor meu.

 

Soneto de fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Estoril, outubro de 1939

Clube do Gueto