CALHAMAÇOS DA LITERATURA: 2666

2666 – Roberto Bolaño

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Que história esperar de um romance de quase novecentas páginas escrito por um autor que sabia estar lutando contra a morte? Os mais apressados poderiam esperar uma narrativa sobre a vida e a morte onde o autor discorreria sobre proximidade do fim e a efemeridade da vida, os cinéfilos poderiam esperar uma recriação da cena clássica de O Sétimo Selo de Bergman, os filósofos, bem deixemos os filósofos para lá. Bolaño nos dá um romance não com uma história, mas cinco, todas elas apontando para a cidade de Santa Teresa, na fronteira do México com os EUA, local de muitos assassinatos de mulheres. Não há enfadonhas digressões sobre o sentido da vida ou algo assemelhado, apenas um amalgama extremamente bem delineado onde encontramos de tudo: professores universitários em busca de um autor em meio a uma complicada relação entre eles, um professor universitário a beira da loucura com sua filha, um repórter negro do Harlem cobrindo uma luta de boxe a contragosto no México, assassinatos misteriosos e mais assassinatos misteriosos de mulheres numa cidade esquecida por Deus no México, um autor alemão durante a segunda guerra e que está prestes a ganhar o Nobel, mesmo se esconde de todos. Para aqueles que esperavam um mundo nas quase novecentas páginas de 2666, Bolaño não dá um mundo, mas o mundo.

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