Balaio – Paulo Novaes

O ciclo

É a bola conduzida no pé do menino

É perceber que o rei não está em nossa barriga

Mas só na culpa da nossa fome.

 

É o lembrete de que juntos somos polvora

Que o mundo não gira só no nosso umbigo

É a fé na fera

Na coragem da mãe protegendo a cria

No diâmetro do balaio cheio

Fazendo a feira

Pra festa e pra farra

 

É a mesa farta

Infartando a miséria

E ainda que proíbam esperancice

Passei a imitar um redentor de sete anos a andar de bicicleta

Jogando sorriso na banguela

Descendo a ladeira da preguiça

 

E ainda que se comemorem os corpos tombados

Hei de achar mais rainha o ventre que abriga a vida

E ainda que ateiem fogo no pão e do circo restem migalhas

Desafio

Quem tocar meu pulso

E fechando os olhos

Não se confundir com o Maracanã lotado em dia de final

Com as ladeiras de Olinda em pleno carnaval

 

Lembre-se

Seu corpo, tua anarquia

Seu espírito um ato político

 

Lembre-se

Não existe fim, apenas novos começos

Não existe tropeço quando se alça voo

Vem

Esfera

É nossa pupila

Travestida de lua

 

 

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