Maria Firmina dos Reis (São Luís – MA, 1822 – Guimarães – MA, 1917)
Primeira mulher a publicar um romance no Brasil, o trabalho de Maria Firmina dos Reis foi um precursor da literatura abolicionista brasileira. Assinado com o pseudônimo “uma maranhense”, Úrsula foi lançado em 1859.
A autora, filha de pai negro e mãe branca, foi criada na casa da tia materna, em contato direto com a literatura desde a infância. Além de escritora, Maria Firmina dos Reis foi também professora e chegou a lecionar para salas mistas – meninos e meninas, brancos e negros, todos na mesma turma –, uma grande inovação no século XIX, e também um enfrentamento às instituições patriarcais e escravistas da época.
“Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé e para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como os animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa. Davam-nos a água imunda, podre e dada com mesquinhez, a comida má e ainda mais porca: vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros à falta de ar, de alimento e de água. É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos!”
(Trecho do romance Úrsula)