Não me lembro quando foi a primeira vez que percebi que meu coração era bom, ou que eu era uma pessoa boa, não lembro. mas esta ultima vez está na minha memória, foi hoje, na volta do consultório de psiquiatria, voltei com as costumeiras quatro caixas de remédios e a alegria de que os dias iam melhorar. logo que sai dei de cara com o mar, a maré cheia e mesmo assim estava lindo, não gosto muito de má revolto, sinto medo. mas a questão é que consegui enxergar o mar sozinha e isso não é uma metáfora. lembro-me bem que só percebi que o consultório, onde faço terapia, fica há um atravessar de rua do mar, quando meu irmão me acompanhou até lá, depois cinco fodidos meses. eu não conseguia enxergar o mar, talvez porque era tudo cinza, tudo sem graça ao meu redor, tudo desesperança e qualquer mínima coisa que fosse captado como prazer meu cérebro automaticamente excluía do meu campo de visão, eu poderia até olhar, mas não via. mas hoje consegui enxergá-lo sozinha, mesmo não estando nos meus melhores dias. fiquei pensando sobre a infinidade de dias ruins que eu havia passado até ali, embora não me sentisse curada, sabia que a dor ainda estava aqui, mas enxergar um pouco de esperança num dia nublado, foi gratificante, me fez lembrar de momentos em que quis ser na vida de alguém, o que o mar foi pra mim naquele dia cinzento e sorri por reconhecer bondade em meu coração. bondade que o mundo insiste em ignorar, mas que resiste que nem cacto nascendo no semiárido, assim como minha gentileza e empatia resiste na secura do mundo
Autora: Patronos
Nossa, eu me vi nesse texto , esse sentimento que o autor escreve é uma das melhores sensações da vida.