Bem, depois de devorar as páginas de “A testemunha ocular do crime” de um dia para o outro, tenho que dizer três coisas:
1 – Miss Marple , a velhinha detetive é uma mega quebra de estereótipo, não nos é empurrado o clássico detetive intrépido de capacidades e desenvoltura quase sobrenaturais, nem mesmo uma femme fatale, jovem linda, sedutora que derrete os homens com seu ar de mistério e rara inteligência. Miss Marple é simplesmente uma idosa (80 anos!) de aspecto frágil que eventualmente emprega sua percepção arguta para resolver crimes. Ser como Miss Marple é minha meta de velhice!
2 – A autora me tapeou muito bem, ela construiu a trama de forma muito bem estrutura para poder induzir o leitor a desconfiar de vários personagens para poder deixar o verdadeiro assassino passar despercebido. Agatha emprega a mesma técnica que os mágicos empregam no palco, seduz a atenção do expectador para outros elementos do ato, fazendo-os parecer muito importantes, para que o verdadeiro ponto importante possa desfilar diante dos olhos de todos sem ser percebido e surpreender. A autora emprega isso com maestria e merece o seu título de “Dama do crime”!.
3 – Por último, eu não poderia deixar passar as alfinetadas que autora dá ao logo de alguns diálogos quanto ao modo que a sociedade encarava (e ainda encara) a capacidade intelectual das mulheres e suas opiniões. Miss Marple é recorrentemente subestimada no caso, não só por ser mulher, mas também por ser idosa. A detetive não se inflama com isso, afinal já viveu e experimentou tanto na vida no meio da sociedade patriarcal que já sabe como lidar com isso sem estresse, aguardando elegantemente o momento certo para fazer os outros morderem a língua sem se abalar.
Bem, o saldo da leitura foi muito positivo, há muito humor, mostrando que um romance policial não necessariamente tem que ser tenso e obscuro para ser bom e envolvente, e há várias reviravoltas na trama, recomendo muito.