Encontro, de L. A. Freire

Andava pelas sombrias e escuras
A névoa e o frio congelando, as ruas
Com uma garrafa de tinto tateando ia
Na solidão, para casa entre as sombras seguia
 
Cansado, os becos parecendo intermináveis
Becos sujos, minha mente em alucinações inimagináveis
Da escuridão uma voz rouca se fez ouvir
“Giordano, porque estás tão tarde a vir?”
Era um velho mendigo, todo sujo ao relento
Ao ver-me levantou-se querendo atento
“Procurei-te por horas, meu caro amigo
Sentei-me aqui a esperar falar contigo
O mendigo, já não o era, mas galante
Com roupas bem feitas e um falar interessante
Andamos por ruas, para mim tão estranhas
Que nada reconhecia, nem as margens vizinhas
O homem cortês guiava-me lento
Perguntava d’minha vida, se passava tormento
Se era feliz, se acaso tinha um’amada
E o que pensava dos bailes, das festas, do nada
“Giordano sou, tu sabes bem,
Tinha uma bela esposa que a Morte hoje tem
Desde lá não vivo senão a sofrer, meu caro
E ir à bailes e festas é meu ato mais raro
A caminhada parecia não terminar
Meus ossos doíam pelo frio e pelo andar
Até pararmos defronte dum lugar funesto
Onde querendo ir eu à casa, não fazia um gesto
E foi lá, sim, quando a Lua brilhou mais
E seu brilho fez surgir um temor e terror fatais
O tal homem, com sombra aluada a mim chegava
Com um breve e horrendo riso a mim desprezava
E aquela sombra em mim tocou, temi
Dela não pude livrar-me, moribundo caí
Meu corpo jamais dali se levantou, não mais
E o silêncio na viela, decretou a paz
Ao lembrar o antigo verso: Nunca mais.
L. A. Freire
Espalhe isto!

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