TEXTOS DESCONHECIDOS: Sonhei com você

“Voltei a dormir, estou até agora na cama para ver se era sonho ou se vai entrar por aquela porta, que sem querer já deixei aberta.
E ainda pelado cama eu escrevo umas bobeiras, coloco um Djonga para criar um ambiente nesta sexta emocionada. Provavelmente nosso amor não se verá hoje, este fim do mundo anda mais complicado que os outros fins. Como sempre vamos sobreviver, e nos amar. Entre sorrisos e amores perdidos nosso paraíso já está desenhado.”

Autor: Diego Fregapani

Encontrado no Instagram O homem na estrada

TEXTOS DESCONHECIDOS: Todo Mundo Precisa de Alguém

Estar sozinho não é de todo ruim. Privacidade, liberdade, independência, autonomia, são coisas que têm seu valor. Mas ser sozinho, ser sozinho é complicado. Porque as pessoas precisam de alguém, um filho, um amigo, um amor… Alguém pra chamar de “sua pessoa”. Aquela pessoa que vai estar lá, seja pra você contar uma novidade boa, seja pra te abraçar num momento ruim, seja pra não dizer nada, só estar ali. Alguém pra dizer boa noite, alguém pra dividir o último pedaço, alguém pra sentir saudade. Ter toda a pizza só pra si parece bom, mas depois do 5º pedaço você passa a pensar que seria bom ter com quem dividir. Todo mundo precisa de alguém, alguém pra fazer valer à pena querer continuar, alguém para quem cozinhar, alguém pra amar, alguém pra ver dormir, alguém pra tolerar. Alguém pra ter uma chave reserva, alguém pra comprar remédios, alguém pra lavar a louça quando você já está cansada demais, alguém pra ser o contato de emergência no celular. Alguém pra abrir a bebida quando você já não tem forças e a única coisa que quer fazer é beber. Alguém pra te curar da ressaca no dia seguinte, alguém pra pedir pra te deixar sozinho, e que vá, que deixe passar, mas que volte depois, pra continuar sendo a sua pessoa. Todo mundo precisa.”

Autora: Ana Paula D.

Encontrado no Google em ArquivoSalvar.

TEXTOS DESCONHECIDOS: Vestindo o Alzheimer

“Antenor já entardecia o sossego quando sua esposa, dona Ermelinda, lhe pedira para caçar dentre as gavetas aquele pano amarelo encardido, que mais parecia um vestido mal passado. Ele sabia de qual se tratava, mas vasculhava, agora, laço por laço, remendo por remendo, no íntimo daquele guarda-roupa de portas também laçadas, também remendadas, a oportunidade de encontrar por aqueles terrenos um tesouro esquecido.

Esquecido, pois já calculava-se o terceiro lapso de memória desde que adentrara naquele mundo homogêneo e inclassificável que ficava bem ali, no guarda-roupa de quem gritava: ‘’achou?’’ – e tinha como resposta: ‘’sim, mas não foi bem desse jeito que sonhei’’, mas dona Ermelinda, acostumada com os retornos desconexos, apenas aceitava, mais uma vez, respeitando o tempo – talvez infindável – de reação do seu marido.

Ouvira, então, os cabides, que algo não estava certo. As roupas, por sua vez, eram surradas pela bengala já abalada pelos desequilíbrios de quem a carregava. No entanto, Antenor prosseguia: ‘’está escrito: Os velhos sonharão sonhos. Eu sonhei! Hei de enriquecer até fim da… E-Ermelinda! O que é que você queria?’’ e, somando mais um vazio no diálogo cotidiano, descansava, pois, no dedilhar de uma pequena caixa cor de mel que encontrara na esquina da terceira gaveta à esquerda. Era perfeitamente quadrada e singela em suas customizações.

– Achei! – gritou à esposa, que esperava ansiosa pelo vestido amarelo encardido.
Fosse isso o que procurasse ou não, as pequenas joias e o bordado que compunham a superfície lhe entretiam o suficiente para que não percebesse, até, que era o único item preservado que poderia ser encontrado não só no interior daquelas portas de madeira, como também no quarto, como também na casa, como também nos corpos que ali moravam.

Deslizava, então, pelas mãos do senhor já próximo da quarta idade, se é que no momento lhe afrontariam as classificações, a tampa da caixa, revelando a ele uma das maiores riquezas que poderia experimentar naquela tarde.

Nesse momento, abrindo-a, sentiu o sabor da lembrança e sentou na cama com os olhos marejados pelos iniciais vestígios de seu retorno. Ele estava prestes a chamar a esposa para vir comemorar, até que vem a sua frente o rosto agora amargo de sua primeira namorada – e noiva – como fez questão de lembrar.

O mesmo aconteceu com a segunda e a terceira, o que, todavia, lhe permitira gritar Ermelinda para participar, pois as lembranças não faziam esquecer – espantosamente – o amor cultivado, dia após dia, pela sua – ‘’Maldita!’’ – esposa. 
Antenor fechou rapidamente a caixa, enquanto resmungava pela segunda vez – ‘’Maldita!!’’ – o azar de quem teve a sorte de ser criado pela madrasta.  ‘’Bem lembrado!’’ – Ele dizia, ao mesmo tempo em que lhe descia pela garganta o preço das recordações. Sua infância amadurecia à medida que a vivia de novo.

E cada fragmento remoía a Arnaldo um gosto diferente. Algumas lhe acariciavam o ego, há pouco santificado pela velhice, no mesmo instante em que outras lhe castigavam.

Assim, as mãos embrulhadas pela pele terminavam de fechar as laterais do bauzinho conservado, que deveria ser ainda mais querido, ainda mais zelado. E no que ia guardando-o em seu devido lugar, na esquina da primeira gaveta à direita, caiu ao pé da cama e ali ficou, esparramado no ápice dos desmazelos. Sem perceber, Arnaldo corria, no passo da bengala, a fim de contar à esposa as novidades do passado.

Ela, porém, em desencontro ao marido, apanha, temerosa, a caixa cor de mel de pílulas para memória esquecidas no chão do quarto, as quais ele nunca lembrava de tomar.

– Arnaldo! E o vestido?

Então ouve a resposta, distante:

– Ah, querida, nunca me esquecerei. Você era a noiva mais linda!”

Autora: Luísa Coutinho

Encontrado no Google em Escambau.

Soneto da mulher ao sol

SONETO DA MULHER AO SOL

Rio de Janeiro , 1962

A bordo do Andrea C, a caminho da França
Uma mulher ao sol – eis todo o meu desejo
Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruz
A flor dos lábios entreaberta para o beijo
A pele a fulgurar todo o pólen da luz.

Uma linda mulher com os seios em repouso
Nua e quente de sol – eis tudo o que eu preciso
O ventre terso, o pêlo úmido, e um sorriso
À flor dos lábios entreabertos para o gozo.

Uma mulher ao sol sobre quem me debruce
Em quem beba e a quem morda e com quem me lamente
E que ao se submeter se enfureça e soluce

E tente me expelir, e ao me sentir ausente
Me busque novamente – e se deixa a dormir
Quando, pacificado, eu tiver de partir…

Vinícius de Moraes
Clube do Gueto