A julgar por essa belíssima obra, iniciei bem as leituras de 2020! O livro traz a historia de Okonkwo, um ilustre guerreiro da aldeia de Umuófia, na Nigéria. Personagem controverso, pode ser amado e odiado em questão de linhas. Muito corajoso e firme, conduz com mãos de ferro sua família e é respeitado, além de temido, pelos habitantes de onde mora. Mas no íntimo sofre com dúvidas, temores e emoções que nunca deixa transparecerem.
Dividido em três partes, o livro começa apresentando os personagens, suas crenças, histórias e desafios. Okonkwo está em seu auge, mas uma série de acontecimentos anunciam sua derrocada. Na segunda parte o vemos tentar reerguer-se, para na terceira parte conhecermos seu destino. A decadência do (anti)herói se confunde com a da cultura africana em contato com os homens brancos.
A leitura é muito fluida, parece que estamos a ouvir um ancião contando “causos”. Mas não se engane! A aparente simplicidade da escrita contém muitos elementos a serem descobertos. Por exemplo, o modo de dar voltas e voltas para adentrar no ponto principal de uma conversa, presentes no discurso de muitos personagens é também presente no próprio texto, quando o início da influência dos brancos nas aldeias é citada após muitas páginas, de forma despretensiosa. Cada conflito aparentemente simples é um prenúncio da crise que está por eclodir.
Um livro que despertou ainda mais minha vontade em conhecer melhor a literatura africana. Recomendo com força!