TEXTOS DESCONHECIDOS: Álbum de Família

“A praia transpirava o azul salgado do mar.

E eu, criança inseto, tentava não ser pega pelos sapos que ali nadavam.

A viscosidade pedregulhosa que eles carregavam me apavorava.

Temia a minha pele sendo contaminada, a sujeira das carnes verdes entrando pelos poros, mostrando para todos as anomalias que eu, ainda tão pequena, acreditava que conseguiria esconder.

*

Ao meu lado, na areia, a família que me prendia no lugar.

Pai. Mãe. Irmã. Primos. Avô.

O nosso pai tirava fotos da irmã.

A minha irmã, uma criança bonita.

Bonita no sentido de quase sensual, uma sensualidade tóxica que é imposta a todas as meninas e que algumas assimilam melhor do que outras.

E por isso elas são sagradas vencedoras.

A minha irmã também foi vítima.

*

Sempre desejei existir para o nosso pai.

Sempre desejei existir para a câmera do nosso pai.

Uma foto e eu existiria.

Mas ele não gastava os rolos caros de filme com uma criança magra e feia que temia os sapos que as outras pequenas gostavam.

Eu tinha sete anos, eu não sabia ser sensual.

*

Só me restava chorar.

Berrei alto, o máximo possível para que sentissem pena e entendessem o cru desespero que jorrava salgado.

Eu queria existir.

O pai escutou, mas não se importou.

*

Ele começou a rir.

Gargalhava enquanto eu chorava.

A desejada máquina ciclópica reluziu, também em deboche.

Bater fotos daquela cara infantil rasgada em lágrimas, que ideia engraçada.

A família celebrou com cerveja barata. Sexo sujo. Dedos podres e restos de comida.

Foi uma ótima piada!

*

A minha agonia registrada para sempre nos álbuns da família.

Não existem outras fotos minhas.”

Autora: Mariana Carolo

Encontrado no Google em Escambau.

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